domingo, 26 de maio de 2019

Equilíbrio






Dois significados que são importantes salientar antes de iniciar o texto principal.

Daat – דַּעַת  (Conhecimento de Deus. Não o que pensamos saber sobre Ele, mas o conhecimento que vem da parte Dele)
Dat – דָּת  (Religião) – O conceito bíblico da palavra religião no hebraico é: Letra Dalet = Porta + letra Tav = Sinal, símbolo, pacto, marca. Que juntando as duas letras temos o significado de: símbolo na porta. Referência para o começo desse conceito está em Êxodo 12:7. (O religioso é aquele que carrega um símbolo/marca/pacto. O judeu carrega esse pacto com o seu Criador dentro de si)

E tomarão do sangue, e pô-lo-ão em ambas as ombreiras, e na verga da porta, nas casas em que o comerem. Êxodo 12:7 ACF

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Ao longo dos anos tenho observado uma chave importantíssima ser corroída. O nome dessa chave é equilíbrio. Gradativamente as pessoas tem elevado o seu ego e alimentado as suas intenções (coração) com a altivez e o orgulho. Com os lábios externam palavras com aspecto de sabedoria, todavia dentro de si alimentam o orgulho de acharem que as suas ‘’religiões’’ (e o conhecimento que envove-as) são mais elevadas que as demais, e que eles são detentores da verdade. A verdade absoluta não é um conceito, ela É (Isso mesmo, você não leu errado, muito menos o autor esqueceu de complementar. A verdade absoluta É). Nós ocidentais ainda estamos muito presos a matéria em si, ao aspecto, estereótipo, a casca que recobre o núcleo e, cada vez mais as mídias e os veículos de comunicação corroboram para esse tipo de prisão. Vivemos de superficialidades, isso também inclui as nossas crenças e visões sobre Deus. Temos lapsos e fagulhas do Todo, e achamos que já obtivemos a plenitude do conhecimento de Deus (Daat Elohim – אֱלֹהִים דַּעַת    Oséias 6:6). Em decorrência a isso, entra orgulho que nos motiva a considerarmos autorizados a julgar estereótipos, ou seja, é a superficialidade com um aspecto de sabedoria julgando o que os olhos almaticos dos mesmos enxergam nas pessoas e nas suas crenças, valores e abordagens sobre a Divindade. Os que tem agridem com palavras os que não tem. Os que acham quem tem se ensoberbecem diante dos que eles acham que não tem. O que tem muito, não compartilha, não ajuda, mas critica. O que acha que tem muito não aceita críticas, ou quaisquer palavras que ele considere contraria a sua filosofia que venha daqueles que ele julga ter menos.

Ainda continuamos como a maioria dos Perushim פרושים  (fariseus) contemporâneo de Jesus. Somos hipócritas, não buscamos elevação do espírito e da alma, mas sim autoafirmação, não refletimos sobre isso, e também procuramos adoração para nós mesmos, honra, glória etc. Temos 20 anos de contato com a religião, conhecemos aspectos cerimoniais, orações, versos, mas não conhecemos quem somos e muito menos quem é o nosso pai, o Eterno, o Pai das luzes. Conhecemos de ouvir falar pela boca de outros, repetimos como papagaio a interpretação de terceiros, porém continuamos a não o conhecer de maneira intima.

O conhecimento é uma das coisas mais valiosas que o ser humano pode obter. É através dele que somos norteados e nos movimentamos. O conhecimento é um caminho ao qual o homem recebe para caminhar (bases). Se esse caminho não estiver atrelado a Deus, ele se rompe e perece, pelo fato de ser pautado em fundações superficiais. O povo é destruído por falta de Daat (Oseias 4:6). Entre os judeus místicos a Daat é conhecida como a sensibilidade espiritual que o ser humano pode ter, e os que não tem podem desenvolver. Esse conhecimento é adquirido através do espírito do homem pela iluminação do Espírito de Deus em nós (Ruach Ha Kodesh). Precisamos do conhecimento que venha direto Dele, necessitamos escutar Ele, os seus mandamentos e suas instruções. (Isso nos dá livre acesso entre os מלאכים   malachim-anjos).

Assim diz o Senhor dos Exércitos: Se andares nos meus caminhos, e se observares a minha ordenança, também tu julgarás a minha casa, e também guardarás os meus átrios, e te darei livre acesso entre os que estão aqui. Zacarias 3:7 ACF

Todavia a maioria das pessoas ainda não obtiveram elevação, elas vivem abaixo do nível do conhecimento de Deus (Daat), elas ainda estão presas no nível Dat (religião). A palavra דָּת   Dat, tem o valor numérico de 404. Que é o mesmo valor da palavra בקבקר   bakbakar, que pode significar vazio (algo interessante também, é que o número 404 representa na linguagem http um erro de comunicação entre o cliente e o servidor). Já a palavra דַּעַת   Daat, tem o valor numérico de 474. Mesmo valor da palavra חכמות   sabedoria, variação do nome da 2ª Sefirah חכמה   chochmá - Sabedoria. A letra ע  Ayin, que se encontra no meio da palavra דַּעַת    Daat, no hebraico significa olho. Os grandes sabios judeus dizem que a visão é o sentido mais elevado do ser humano, não é por acaso que o olho está acima das outras partes do corpo responsavel pelos demais sentidos. Quando a visão espiritual não se abre no meio de דָּת  Dat (religião), continuaremos apenas no natural, mecânico e ritualístico. Do contrário, quando os olhos são abertos, nos é apresentado o conhecimento de Deus (Daat), e enxergamos as coisas de acordo com o prisma Dele, conforme o olhar Dele. O ד  (dalet) ת  (tav) sem o ע  (ayin), é o mesmo que um pacto e um portal sem uma visão/norte/direção/caminho. O machiach (Messias) é o que faz essa conexão. Existe uma visão adormecida entre o Tav e o Dalet, entre um pacto e uma porta. Precisamos ativar o Machiach em nós. O pacto representa o homem que foi selado pelo seu Criador, e o portal representa a abertura dimensional do céus a esse homem. Esse olhar (Ayin), é o que unifica os dois, que trás sentido e significado. O que realmente faz uma comunicação com Deus ser agradavel a ponto de obter retorno da parte Dele, é a Kavana (intenção/amor). Sem ela a religião (e os seus aspectos), não causa nenhum efeito espiritual positivo e elevatório, é apenas um fruto podre por dentro, uma casca vazia.

O conhecimento (Daat) expulsa espíritos malignos. A falta dele entrelaça o homem aos mesmos.
Nossa natureza é perversa desde a meninice.

E o Senhor sentiu o suave cheiro, e o Senhor disse em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice... (Gênesis 8:21 ACF) 



Sem o Conhecimento de Deus nós somos seres desequilibrados. E sem equilíbrio nos tornamos ignorantes a manifestação da presença de Deus, por isso julgamos e apontamos o dedo achando que conhecemos alguma coisa, pois a falta do conhecimento Dele e Nele, eleva em altivez o homem e, o primeiro sinal a isso é o julgamento, quer seja externado ou interiorizado. Primeiro passo para elevação é: Procure se livrar do julgamento (Veja bem, falo sobre o julgamento antecipado, o julgamento através da alma desequilibrada com o Criador).

O equilíbrio não é algo inerte, todavia é o movimento em equilíbrio, sem extremos. Não tem muito a ver com o extremo de uma atitude, mas em viver uma vida de extremismos. É uma atitude consciente (madura), extremamente pensada. É necessário saber o quanto pesar para a direita e para a esquerda, pois se colocarmos um pesar para um dos dois lados em excessos, logo teremos algo desarmônico, caracterizando o desequilíbrio. Ou seja; é dois pesos e duas medidas.

Dois pesos e duas medidas; pesos adulterados e medidas falsificadas são desonestidades abomináveis ao SENHOR. (Provérbios 20:10)

Quando existe dois pesos e duas medidas, o peso fica adulterado, desalinhado, desequilibrado. Quando não ponderamos as nossas atitudes e quando vivemos a nossa vida fora da vontade de Deus, nos tornamos adúlteros. 
O equilíbrio é um denominador comum entre justiça e misericórdia. O equilíbrio também está ligado a restrição do ego, da vontade exacerbada da alma, ao qual eu digo sim para tudo que tenho vontade, e também do erro de um modo geral. Um tsadik (justo) erra como qualquer outro, porém ele reconhece seu erro e procura retornar rapidamente ao caminho espiritual da verdade. A palavra fluidez reflete bem o significado de equilíbrio. É como a água que flui, entretanto por mais que ela não tenha uma forma comum propriamente dita, ela assume formas as vezes dependendo do ambiente em que esteja. Ela não perde sua essência e característica, todavia pode estar vestida em corpos. A torah (5 primeiros livros da Bíblia) nos revela 613 mandamentos. 248 são prescrição, isso é, deveres, mandamentos positivos, ao qual pelos sábios é dito que estão relacionados ao número de ossos ou órgãos importantes no corpo humano,[1] isto é, como se cada membro dissesse à pessoa: "Cumpra um preceito comigo". 365 mandamentos são abstenções, isso é, proibições, mandamentos negativos, na qual corresponde ao número de dias no ano solar. É como se cada dia dissesse à pessoa "Não cometa uma transgressão hoje".[2] Existem mais preceitos negativos do que positivos, pois isso alude que o nosso ponto de equilíbrio será mais de negação do que uma tomada de atitude referente aos nossos deveres. Isso é; todos os dias precisamos nos auto examinarmos, pois todos os dias o pecado se apresentará em nosso caminho.  

Antes do ser humano atingir o equilíbrio (elemento que compõe a maturidade espiritual), a sua tendência é bater nos extremos. Exemplo: Um colaborador de uma empresa qualquer fala muito, e o seu superior ao conversar em particular com o mesmo pede para que ele fale menos; O que ele e a maioria dos seres humanos fazem nessa situação? Simplesmente não passam a falar moderadamente, todavia param de falar, se restringindo a falarem apenas o básico. Assim agem a maioria das pessoas, precisam bater nos extremos até achar o ponto de equilíbrio. Discernimento espiritual é essencial na busca do equilíbrio, pois ele funcionara como uma bússola para revelar o momento de exercer misericórdia (Chesed) ou rigor (Guevurah), ação (Netzah) ou ponderação (Hod). A maioria comumente são incisivos na expurgação do pedaço da verdade que estas o encontraram, e a medida que descobrem algo, por mais que venha a ser contraditório ao que ela mesma pensava anteriormente, a tendência é continuar sem equilíbrio, mantendo uma posição de defesa contundente da sua fração da verdade. Não somos detentores da verdade, conhecemos frações dela, e cada um tem uma fração do Todo.


Porquanto em parte conhecemos e em parte profetizamos; (1Corintios 13:9)

Deus é UM, e tudo fora da unicidade é dualidade, o julgamento cria dualidade. O que sair da Unicidade é adultério e idolatria, revelando assim a nossa natureza caída que precisa fazer teshuvá (retorno) a fonte matricial, que é o Eterno. A dualidade dentro do Eterno já não é mais dualidade, é ver o que Ele vê, é pensar e agir como Ele faria, logo estará sendo UM com o Criador. A questão da dualidade em si, se dá quando estamos em uma evolução espiritual (posso fazer isso? Posso fazer aquilo outro? Posso tocar nisso? O que não devo eu tocar? Dentre outros), como qualquer aluno, todavia quando essa maturidade espiritual desejável chega, o que outros de fora poderão julgar como dualidade já não é mais, pois estaremos dentro da vontade de Deus, imagem e semelhança, retornando ao projeto inicial, Criador e criatura em perfeita harmonia.


Faça um exercício, constantemente e diariamente, controle os seus pensamentos para não julgar, mesmo que você acabe julgando no começo, reprograme esses pensamentos que vier e dê comandos para o seu cérebro pensar de maneira indiferente ao julgamento. Para aumentar o volume dos músculos é necessário muito treino, bastante esforço, até chegar em um ponto em que se torna prazeroso e, já não é mais tão difícil quanto no começo da caminhada, assim é as coisas espirituais, precisamos nos esforçar, até que as mesmas se unifiquem a nós, a ponto delas se tornarem uma conosco, de maneira natural. Grande abraço a todos


Francesco Jansen
Instagram: francesco.jansen





[1]   Talmud Babilônico, Tratado Makot 23b-24a. Como afirmado na Jewish Virtual Library: "Há um completo entendimento que essas 613 mitzvot podem ser quebradas em 248 mitzvot positivas (uma para cada osso e órgão do corpo masculino) e 365 mitzvot negativas (para cada dia do ano solar)".


[2] Os 613 Preceitos da Torah. Disponível em: <http://www.chabad.org.br/mitsvot/index.html.> Acesso em: 30, Set, 2019.




Um comentário:

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